Caso 3
Identificação
• Felino,
• SRD,
• 5 anos de idade
Histórico/anamnese
Lesões falacróticas, ulceradas , encimadas por crostas hemáticas, formato geográfico, disseminadas com acometimento principalmente de regiões cafálica, pavilhões auriculares e membros. O quadro tinha evolução de cerca de 4 meses, sendo o felino de hábitos querenciados O proprietário não concordava com realização de exames subsidiários e praticamente havia optado pela eutanásia. A colega que encaminhou este paciente, assumiu o tratamento do paciente. e foi realizado diagnóstico terapêutico.
Exame físico :
Diagnóstico: Esporotricose
A Esporotricose é causada por fungo dimórfico, sapróbio, monoespecífico, Sporothix schenckii que acomete o homem e os animais, sendo assim classificada como uma dermatozoonose. É cosmopolita, podendo ser encontrada no mundo, todo mas há regiões onde a incidência de casos tem crescido muito nos últimos anos, uma destas regiões, no Brasil, o estado do Rio de Janeiro.
Além do acometimento de cães, gatos e seres humanos, há relatos em eqüinos, primatas, asininos, bubalinos e murinos.
Como todo fungo dimórfico, a esporotricose tem sua forma de bolor (“M” – mold) quando exposto a temperaturas entre 25°C e 30°C graus. Já em temperaturas de aproximadamente 37° C se apresenta sob a forma leveduriforme (“Y” – yeast), que é a maneira como se apresenta quando nos organismos dos animais e do homem.
Em a natureza será encontrada principalmente no solo, em material orgânico (casca de árvores e troncos) em decomposição. O homem ao sofrer um trauma lidar com plantas ou similares contaminados tem o fungo inoculado na pele e acaba contaminado.
Os felinos, animais mais freqüentemente acometidos, usam árvores e troncos para afiar as unhas, assim se contaminam e carregam o fungo sob as unhas, inoculando-o no homem e em outros animais quando os arranha em brigas. Isso explica por que a maior incidência da esporotricose ocorre em gatos machos, aqueles mais belicosos. Já, os cães mais acometidos são ditos caçadores, que nas matas sofrem traumas quando com o contato com plantas e têm o fungo inoculado. Eventualmente, são contaminados pelas unhas dos gatos.
Uma vez inoculado o fungo toma a sua forma levedúrica e causa lesões gomosas, exsudo-ulcerativa. Freqüentemente, acomete os linfonodos regionais, podendo se difundir pelo sistema linfático causando linfagite e linfoadenite, passando à forma sistêmica, em animais imunocomprometidos.
Sintomatologia:
Caninos: são menos acometidos que felinos. Usualmente neles se apresenta a forma nodular cutânea e subcutânea, acometendo o tronco e a região cefálica, podendo se apresentar na forma nasal, similar aos gatos, nestes espécimes a forma disseminada é extremamente rara.
Os nódulos normalmente necrosam (goma) e ulceram, terão exsudato purulenta e crostas hemorrágicas. A forma cutânea pode evoluir para a forma cutâneo-linfática, acometendo linfonodos regionais. Ao longo do sistema linfático outros nódulos surgirão.
Felinos: é a espécie doméstica mais acometida devido a seu estilo de vida. As lesões também são nodulares ulceradas, com crostas hemorrágicas e exsudato purulento, acometendo mais os membros e a região cefálica. Mas o felino pode agravar seu quadro infeccioso pela auto-inoculação, através de seus hábitos de higiene, podendo o fungo ser isolado, da cavidade oral destes animais.
A disseminação, pelo sistema linfático, ocorre da mesma forma que nos caninos, podendo chegar a forma sistêmica, principalmente nos gatos imunocomprometidos, pois estes animais podem ter associado a infeções por retrovirus (principalmente o vírus da Imunodeficiência Viral Felina), mas não é um relato freqüente.
O exame físico , pode não evidenciar o sistema linfático acometido. Muitas vezes estas alterações são vistas apenas em necrópsias ou biópsias, seguidas de exames histopatológicos dos órgãos mais acometidos, a pele, o pulmão e fígado, além dos linfonodos.
Diagnóstico:
Existem várias formas de diagnóstico e aquela mais fácil é o exame citológico, positivo em quase 100% das lesões cutâneas de gatos face a pletora de agentes. Nos cães esta positividade citológica não é tão alta, o que dificulta mais o diagnóstico.
- Citologia: deve-se coletar material do exsudato, cora-lo pelo método de Wrigth, Rosenfeld, “Diff Quick” para localização do fungo em forma circular, ovalóide ou ainda navicular, de coloração azul. Circundado por células inflamatórias e muitas vezes no interior de macrófagos.
- Cultura fúngica: material do exsudato através de biópsia, deve-se enviá-lo ao laboratório. É interessante envia-lo indicando a suspeita de Esporotricose, e solicitar a cultura em Ágar Sabouraud com e sem impediente (ciclohexamida), para diagnóstico diferencial com a Criptococose, principalmente nos casos em felinos. A cultura é relativamente simples. Sendo o agente dimórfico teremos a forma de bolor, em temperatura ambiental, e a forma levedúrica, em temperaturas de 37º C. Estas serão identificadas, posteriormente microcultivo.
- Histopatológico: nos fragmentos enviados são encontrados formas levedúricas do fungo. De forma similar à citologia temos o fungo corado em azul com uma discreta cápsula, na forma navicular, circular ou ovalóide. Ao contrário dos fragmentos de biópsia de seres humanos, as lesões de animais (gatos) apresentam muitos esporos, facilitando a sua visualização.
- Inoculação em animais de laboratório: menos utilizado nos dias de hoje, se trata da inoculação intratesticular em ratos para verificar o desenvolvimento da doença.
- Teste intradérmico: ainda utilizado em seres humanos, mas em Medicina Veterinária, devidos aos bons resultados obtidos com o histopatológico e os fracassos evidenciados com esta metodologia é o método de diagnóstico menos usado.
Tratamento:
O tratamento de maior eficácia hoje utilizado é a base de Itraconazol (10mg/kg ao dia), podendo esta dose ser dividida em duas administrações diárias.
Outras opções de tratamento, menos eficazes e mais tóxicas ao animal são as soluções saturadas (a 20%) de Iodeto de Potássio ou de Sódio 40mg/kg a cada 8 ou 12 horas para cães, durante 30 a 60 dias iniciais, mantendo a medicação por mais 30 dias depois da remissão dos sintomas. Nos felinos afora os efeitos colaterais não se observa qualquer remissão sintomatológica ou lesional. Os efeitos colaterais serão devido ao iodismo onde os animais apresentam vômitos, diarréia, anorexia, hipotermia e falência cardíaca, principalmente em gatos.
Sugestões de referência Bibliográfica:
• LARSSON, C. E. – Sporotrichosis – 27 th WSAVA Congress; 2002
• SCOTT, D.W.; MILLER Jr. W.H.; GRIFFIN, C.E.; Immune-Mediated Disorders, In: _____. Muller and Kirk´s Small Animal Dermatology , 6 o ed. Philadelphia, Saunders, p.386-390, 2001.
• GREENE, C. E.; Sporotrichosis, In: _____. Infection Diseases of dog and cat , 3º ed. Philadelphia, Sauders, p. 608-612, 2006.
• GUAGUÈRE E., PRÉLAUD P., In: _____. Guia Practica de Dermatologia Felina , Merial, p.5.4 e 5.5, 1999.
• SAMPAIO, S. A. P.; CASTRO, R. M., RIVITTI, E. A., ,In:_____. Dermatologia Básica , 2 ª ed., Artes Medicas São Paulo, 1982.
Autoria: M. V. Edward Ludovicus Hellebrekers
CRMV-SP 09238
Conselho Consultivo da SBDV